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Afirmações de Paulo Guedes sobre Mercosul surpreendem membros do bloco

FUTURO MINISTRO PAULO GUEDES

As declarações do futuro ministro da Fazenda do Governo Bolsonaro, Paulo Guedes, deixaram preocupadas as autoridades da Argentina e do Mercosul.

Mostrando certo desequilíbrio ao responder a uma pergunta da jornalista do jornal argentino Clarín, Eleonora Gosman, sobre o desmonte do Mercosul, Paulo Guedes afirmou: “Sua pergunta está mal feita.

A pergunta é se vamos comercializar somente com a Argentina? Não. Somente com Venezuela, Bolívia e Argentina? Não. Vamos negociar com o mundo”.

“O Mercosul não é prioridade. Não, não é prioridade. Tá certo? É isso que você quer ouvir? Queria ouvir isso? Você tá vendo que tem um estilo que combina com o do presidente, né? Porque a gente fala a verdade, a gente não tá preocupado em te agradar”, acrescentou.

De acordo com analista e diplomatas ouvidos pela BBC Brasil, s declarações do “superministro” de Bolsonaro causaram impacto negativo.

O diretor do mestrado de relações comerciais internacionais da Universidade Tres de Febrero (UNTREF), Félix Peña, disse que o assunto é “tão sério” que preferia opinar somente se o futuro presidente ou o futuro ministro das Relações Exteriores do Brasil falarem sobre o tema.

“Que um dos países do bloco diga que não dará prioridade ao Mercosul é algo tão sério que deve ser dito pelo máximo escalão do país e das Relações Exteriores”, disse Peña.

Ele afirmou ainda que o Brasil está formalmente e legalmente comprometido com o Mercosul, pelos acordos assinados.

O Mercosul existe desde 1991, prevendo a ampla circulação de bens e serviços, facilidades tarifárias no comércio entre os países-membros e política comercial unificada para outros países que queiram negociar com o bloco.

Os sócios originais são Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – a Bolívia é um Estado associado em processo de adesão e a Venezuela, que entrou no bloco em 2012, foi suspensa duas vezes por descumprimento de cláusulas democráticas.

O país governado por Nicolás Maduro está alijado de todos os órgãos do Mercosul há pouco mais de um ano, depois da convocação de uma Assembleia Constituinte considerada antidemocrática internacionalmente.

Segundo o Itamaraty, as trocas no Mercosul se multiplicaram nove vezes entre os sócios fundadores do bloco – de US$ 4,5 bilhões em 1991 a US$ 40 bilhões em 2017.

Críticos afirmam, porém, que o bloco atualmente engessa negociações comerciais brasileiras com outros blocos e países e faz pouco para proteger a democracia na América do Sul.

O ex-embaixador da Argentina no Brasil Juan Pablo Lohlé disse que as palavras de Guedes geraram “preocupação e surpresa”. Mas que as declarações do futuro ministro de Bolsonaro serviram, na sua visão, “de alerta” para a Argentina.

O país presidido por Mauricio Macri, afirmou o ex-embaixador no Brasil, não deveria continuar dependente do mercado brasileiro como é atualmente. O Brasil é um dos principais destinos das exportações da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.

Os principais jornais da Argentina, Uruguai e Paraguai publicaram notícias sobre as declarações de Paulo Guedes de que o Mercosul não será prioridade durante o governo Bolsonaro.

NP

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