Tempo - Tutiempo.net

Economia Comparada, a febre dos rankings

Economia comparada

É com uma certa insistência que falamos da paridade do poder de compra. Trata-se de uma preocupação de há cem anos entre os economistas.

O primeiro a propor um método de medida que leve em consideração os preços relativos foi Karl Gustav Cassel (1866 – 1945), expoente na Escola Sueca do pensamento econômico.

Como Cassel escreveu sobre o assunto entre as guerras, sua preocupação era estabilizar a taxa de câmbio para que o comércio internacional pudesse prosperar.

Era um tempo em que a Alemanha vivia uma hiperinflação devido à cobrança de indenizações de guerra e, naturalmente, isso provocava um desequilíbrio no comércio entre os países da Europa.

Ele partiu do princípio de que a taxa de câmbio tende a desvalorizar-se na medida em que haja uma elevação no nível interno de preços.

Essa desvalorização não implica em que haja real queda de renda, visto que os habitantes continuam pagando suas contas, de uma forma ou de outra, apesar da elevação do preço da moeda estrangeira com que se paga pelas importações e pela qual se recebe nas exportações.

Nunca se negou que taxa de câmbio, em prazo mais dilatado, altera o padrão de consumo dos indivíduos, seja porque bens, antes destinados ao mercado interno, passam a ser exportados, seja porque os bens importados mudam de patamar de preços, influenciando toda a cadeia produtiva a partir deles.

A questão é que isso acontece com uma intensidade e uma temporalidade diversa da variação da taxa de câmbio em si. Um exemplo foi a maxidesvalorização que se seguiu à posse de FHC para seu segundo mandato.

O dólar, virtualmente, dobrou de preço e isso não significou que a renda de todos os brasileiros, assim como de todos os ativos aqui presentes, tenham passado a valer a metade do que no dia anterior.

A ideia de paridade do poder de compra pretende amortecer as variações cambiais, promovendo um meio mais seguro para que os investidores decidam sobre como e onde investir, tendo em vista o valor dos ativos a adquirir, bem como o tamanho do mercado em que pretende operar.

Essa necessidade se agrava com o fato de, mesmo que flutuante, a taxa de câmbio seja alvo constante da administração pública.

Choques podem ser provocados pela tributação de transações em moeda estrangeira, como promoveu Mantega em 2012.

A taxa de câmbio pode variar de acordo com variáveis alheias à vontade dos governantes, como a proximidade das eleições, como aconteceu em 2002 com a perspectiva de Lula assumir o poder.

Por outro lado, a variação cambial afeta o índice de preços, amortecendo, ou como dizem alguns economistas, esterilizando o efeito da variação do preço da moeda estrangeira.

Isso significa que a economia interna tende a acomodar-se à nova taxa de câmbio, muitas vezes, voltando à situação anterior, levando o governo a intervir novamente, num ciclo de período indefinido.

Entendido que a renda não sofre efeitos tão bruscos quanto a variação do câmbio, resta saber como trazer todas as economias a um denominador comum, permitindo compará-las em tamanho e potencial de mercado.

Uma possibilidade é equalizar os preços de todo o mundo aos cobrados no país cuja moeda sirva de base para o maior número de transações internacionais.

Como desde o acordo de Bretton Woods o dólar foi imposto como moeda única para as transações internacionais, é de se supor que o país que serve de base para a equalização sejam os Estados Unidos.

Isso implica em que os PIBs de todos os países sejam “recalculados” a preços praticados nos Estados Unidos no mesmo período.

Ocorre que muitos bens não são comercializados internacionalmente, de sorte que apenas os que o sejam entrem no cálculo.

Esses produtos são chamados de tratáveis pelos economistas, ficando os de consumo local conhecidos como não tratáveis.

Aliás, há produtos não tratáveis também nos Estados Unidos, de forma que o denominador sofre de viés semelhante ao dos países cujo PIB será recalculado.

Isso implica em que se usem os índices de preços como deflator para incorporar  os produtos não tratáveis.

Aí, esbarra-se numa outra questão, a divergência do cômputo desses índices, pois cada país tem o seu.

Não custa reforçar que a economia, como qualquer ser vivo, tende a acomodar-se a cada nova situação, voltando a prosperar, não necessariamente na mesma trajetória, mesmo assim, a prosperar.

Os percalços vão ficando no passado e seus efeitos, mesmo que duradouros, são amortecidos pelo próprio tempo.

Isso pode ser chamado de quebra de sequência, o que dificulta a comparação entre períodos.

Ver os dados obtidos do Banco Mundial para que se veja como a coisa funciona na prática e se, apesar de todas as imperfeições metodológicas, a ideia de paridade do poder de compra cumpre seu papel na Economia comparada.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista,

OUTRAS NOTÍCIAS