Os movimentos de Paulo Guedes, de permitir a liberação de saldos do FGTS ou de reduzir as contribuições das empresas ao fundo tem um único objetivo: esvaziar mais uma fonte de financiamento público, com papel relevante para a construção civil e para o saneamento.
Não há lógica econômica nessa decisão, como não há lógica no esvaziamento dos fundings do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em um momento em que se aposta nos investimentos em saneamento e na construção civil como saida para a recessão econômica.
Uma política econômica responsável trataria de juntar os instrumentos públicos e os privados para alavancar o investimento. Ambos são complementares.
O financiamento público é essencial em setores de maior volatilidade, especialmente nos financiamentos de longo prazo, imprescindíveis para a infraestrutura.
Não apenas garantem os financiamentos como operam como um balizador dos custos do mercado. O mercado entra nas sobras do BNDES ou, então, oferece condições melhores que os bancos.
Ao afastar o BNDES e a própria Caixa Econômica Federal dos financiamentos, a principal intenção de Guedes é reduzir a competição na oferta de financiamento e, com isso, aumentar a margem de ganhos dos bancos e fundos privados.
A disputa final não é entre Estado e mercado, mas entre margem de lucro dos financiamentos privados e, principalmente, preços dos ativos privados das empresas da economia real.
Vamos a um pequeno exemplo financeiro.
O preço de um ativo corresponde ao valor presente do fluxo esperado de resultados futuros.
Suponha um investimento com os seguintes elementos:
Investimento de R$ 10 milhões.
Financiamento junto ao BNDES pelo prazo de 10 anos a uma taxa de juros de 6% ao ano.
Resultará em uma prestação anual de R$ 1,4 milhões por ano.
Ao
final do 2º ano o investimento rende um resultado de R$ 3 milhões anuais. O resultado anual corresponderá à diferença entre o resultado e o pagamento do financiamento.
Seu valor de mercado, supondo a Taxa Interna de Retorno de 6% ao ano, será de R$ 9,3 milhões.
Suponha, agora, que o BNDES saia fora da parada e ele consiga um financiamento junto a um banco de investimentos a uma taxa de 10% ao ano. Nesse caso, o pagamento anual saltará para R$ 1,6 milhão por ano, uma alta de 20%.
Se o banco de investimento tem um custo de oportunidade de 10% ao, emprestando para empresas, para adquirir ativos exigirá uma taxa de retorno semelhante.
Nesse caso, o valor da empresa cairá para R$ 5,7 milhões. Ou seja, meramente devido à diferença do custo do dinheiro, o valor de mercado da empresa cairá 38%.
Repare, portanto, que retirar o BNDES e a CEF do financiamento de empresas e, consequentemente, encarecendo o custo do dinheiro, há um duplo ganho para o capital financeiro: financiando as empresas a taxas maiores ou as adquirindo, a preços menores.
Mais que isso, o custo maior do financiamento irá de refletir na elevação das tarifas de saneamento, nos preços finais das casas, no encarecimento da infraestrutura.
A lógica de Paulo Guedes é a mesma de Bolsonaro: a destruição de todos os instrumentos que permitiriam ao país sair mais rápido da crise atual.
Luis Nassif