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Cardeal francês é condenado por não denunciar abusos sexuais.

Cardeal Philippe Barbarin, Arcebispo de Lyon, chega para seu julgamento em corte de Lyon, em imagem de arquivo — Foto: Emmanuel Foudrot/Reuters
O cardeal francês Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, foi condenado a seis meses de prisão por não denunciar agressões sexuais contra menores cometidas por um padre de sua diocese. Logo após o veredito, o cardeal anunciou que irá pedir ao Papa Francisco o seu afastamento da Igreja Católica.
Barbarin, de 68 anos, não estava no tribunal correcional de Lyon nesta quinta-feira (7) para ouvir a sentença que não prevê, porém, que ele seja encarcerado. Na França, o sistema judicial permite em alguns casos que o acusado só cumpra efetivamente a pena em prisão caso haja reincidência. A defesa irá recorrer.
Por outro lado, outros cinco acusados de não denunciarem os crimes cometidos pelo padre Bernard Preynat não receberam condenação por prescrição dos delitos ou falta de provas: Maurice Gardes (arcebispo de Auch), Thierry Brac de La Perrière (bispo de Nevers), padre Xavier Grillon e os leigos Pierre Durieux (ex-diretor de gabinete de Barbarin) e Régine Maire (encarregada pela arquidiocese de receber vítimas de pedofilia).
De acordo com o jornal “Le Monde”, a condenação foi simbólica e justiça se concentrou no acusado que ocupava o cargo mais alto da hierarquia da igreja católica acusado pela associação La Parole Liberée (A Palavra Liberada) de silenciar face ao caso de pedofilia. A juíza entendeu que o cardeal Barbarin intencionalmente obstruiu a justiça. Ele se tornou a maior autoridade da Igreja católica processada na França por casos de pedofilia.

Os advogados anunciaram que pretendem apresentar um recurso contra a sentença. “A motivação do tribunal não me convence. Portanto, vamos apelar contra a decisão por todas as vias do direito”, disse Jean-Félix Luciani, que considera “difícil para o tribunal resistir a uma tal pressão com documentários, um filme [produzidos sobre o caso]”.

Francois Devaux, cofundador da associação La Parole Liberée, celebrou a sentença, que considerou uma “grande vitória para a proteção das crianças”. Ele acredita que a condenação do cardeal é o “coroamento de um longo percurso pela conscientização” do problema da pedofilia na Igreja Católica.
O julgamento do padre Preynat está previsto para o final deste ano. No entanto, ele já reconheceu denúncias apresentadas recentemente à justiça por quatro adultos, que sofreram abusos quando eram crianças, entre 1986 e 1991. O caso do padre Preynat é retratado no filme “Grâce à Dieu”, do diretor francês François Ozon, vencedor do grande prêmio do júri no último Festival de Cinema de Berlim.
 Abusos:

O caso veio à tona em 2015, depois que várias vítimas denunciaram o padre Bernard Preynat por abusos cometidos entre 1986 e 1991. Na época dos abusos, as vítimas eram menores de 15 anos.

As vítimas também apresentaram uma denúncia contra Barbarin por não ter recorrido à Justiça, embora estivesse a par dos fatos.
O advogado Jean Boudot, que representava as vítimas, afirma que o cardeal sabia dos casos de pedofilia desde pelo menos 2010, quando discutiu com o padre Preynat os “rumores” que corriam sobre ele.
Philippe Barbarin foi acusado de não denunciar os crimes — Foto: Robert Pratta/Reuters

 

 O cardeal, porém, afirma que só soube das denúncias contra o religioso em 2014 depois de conversar com uma das vítimas.
Depois de seis meses de investigação e de seis horas de interrogatório do cardeal, a Procuradoria de Lyon arquivou o caso em 2016. Várias vítimas lançaram, porém, um procedimento de citação direta. Na França, isso permite à vítima recorrer diretamente a um tribunal penal.
A partir daí o caso ficou sob responsabilidade da juíza presidente da 17ª câmara correcional de Lyon, Brigitte Vernay. O julgamento começou em janeiro deste ano e Barbarin negou ter alguma culpa no caso. “Não vejo do que sou culpado”, afirmou o cardeal.
De acordo com o “Le Monde”, em 2001 e 2018 bispos foram condenados na França em casos semelhantes.
G1

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