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ROBERT CRUMB E OBRAS

Robert Crumb

Mr. Natural foi o primeiro personagem de Robert Crumb a ter revista própria. E é também o mais presente ao longo da carreira do desenhista e o mais emblemático da evolução e dos temas abordados por Crumb.

No entanto, de tantos gatos, coelhos e personagens exóticos, Mr. Natural é aquele que parece ser o menos autobiográfico.

Mr. Natural é, por exemplo, aquele menos dado a crises existenciais e a profundos auto questionamentos. Ou o menos perturbado por seus desejos sexuais. Ao mesmo tempo que parece de uma transparência total, é talvez o personagem mais ambíguo, mais complexo.

É um charlatão que aproveita da credulidade alheia para garantir sua boa vida?

Um verdadeiro sábio que atingiu uma profunda compreensão do mundo?

A biografia que Crumb arrumou para seu personagem não ajuda muito.

Mr. Natural teria se envolvido no tráfico de bebidas durante a lei seca, teria criado um “santo remédio” em 1925 ao mesmo tempo em que se inventava como Dr. Von Natürlich.

Depois de um período na cadeia, reapareceu como o mágico Mr. Natural, o Magnífico.

A carreira também foi curta e escandalosa. Então se tornou músico e virou um grande sucesso entre as big bands com a Mr.Natural e seus Libertinos Líricos.

Ficou rico, mas subitamente abandonou tudo para se tornar um andarilho, junto com outros tantos vagabundos da América. E, depois, dizem que andou pelo Oriente Médio, China, Tibet e Afeganistão, onde trabalhou como taxista. Por fim, o encontramos cercado de discípulos na Califórnia.

Em Meus Problemas com as Mulheres, Robert Crumb expõe alguns dos traços mais controversos de sua personalidade e de sua obra: a tumultuada mistura de devoção e desprezo pela figura feminina, a famosa fixação por mulheres de um determinado tipo físico, os fetiches bizarros e, acima de tudo, a coragem de transformar tudo isso em arte sem se deixar levar por nenhum tipo de autocensura ou autoindulgência.

Tímido, obsessivo, egocêntrico, inseguro, atormentado por um complexo de culpa tipicamente católico. Robert Crumb tinha tudo para ser um grande fracasso com as mulheres.

E foi, pelo menos até 1968, quando, inspirado pelo LSD, se tornou uma espécie de herói da contracultura ao lançar sua revista de quadrinhos underground, a Zap Comix.

De uma hora para outra, ele se viu no centro das atenções das jovens hippies de San Francisco em plena era da liberação sexual.

A partir daí, toda a hostilidade e as fantasias reprimidas a duras penas durante os primeiros anos de vida puderam se materializar em práticas sexuais nada convencionais e histórias em quadrinhos de uma franqueza arrebatadora.

Uma das obras mais incríveis de Robert Crumb, um retrato cru e irônico dos Estados Unidos.

Amargo e até mesmo cáustico, Crumb apresenta uma visão dos EUA suja, feia, desesperançosa. Ao mesmo tempo, o desespero leva a criação de personagens como Frosty, o guerrilheiro, ou Whiteman, um branco cristão de classe média, todos eles como retratos do que ele vê no povo americano.

Uma visão sobre a maior potência do mundo que antecedeu George W. Bush, mas que vislumbrou exatamente o caminho que permitiu sua chegada ao poder.

O cartunista faz um retrato a respeito dos bluesmen norte-americanos. Estão presentes Robert Johnson, Furry Lewis, entre muitos outros, que ‘assombraram’ o delta do Mississippi e, de quebra, criaram os fundamentos não só do rock, mas de toda uma cultura negra americana que se espalhou pelo mundo.

O álbum ‘Blues’ é, por si só, cheio de histórias e lendas. A vida nos campos, as bebedeiras, os cantores cegos, a discriminação racial e, claro, os pactos com o diabo em encruzilhadas – que alguns músicos diziam fazer para se tornar melhores instrumentistas.

Este álbum traz histórias que Crumb foi construindo através dos anos, que mostram e criticam as evoluções da música popular através do século XX.

Ao longo dos séculos diversos grandes artistas se dedicaram a ilustrar Gênesis, o livro inicial da Bíblia, aquele que conta a origem de tudo. Adão e Eva, Caim, Abel, Noé, Abraão, Sara, Jacó, José são dos personagens mais retratados em pinturas e esculturas.

Agora, no século XXI, aquele que é considerado não só o maior quadrinista do planeta, mas, para muitos, o maior artista vivo do Ocidente, resolveu realizar sua obra máxima, uma versão em quadrinhos com o texto integral de Gênesis.

Durante mais quatro anos, Crumb se dedicou a um estudo profundo nas pesquisas mais atuais a respeito do texto bíblico, à iconografia clássica e em um material fotográfico imenso da chamada Terra Santa.

O resultado é uma obra monumental, já saudada como o livro do ano! Crumb leva os quadrinhos a seu mais alto nível, com firmeza, fervor e liberdade marcas características de seu gênio.

E é isso que distingue esta sua adaptação deliberadamente literal, sem tirar nada do texto original também sem incluir, distante tanto do fanatismo religioso quanto da blasfêmia.

A Sagrada Escritura permaneceu intacta e foi enriquecida graças à detalhada e épica adaptação gráfica. Foi dada uma rigorosa e precisa atenção ao detalhe histórico para que surgisse algo convincente e autêntico.

Neste livro, Adão e Eva, Caim, Noé, Abraão, Sara, Isaac, Raquel e a multidão de seus descendentes adquirem fisionomias, um peso, uma verdade carnal que fazem com que eles nos surjam como pessoas próximas,os modelos nos quais se funda toda a humanidade.

Desde que lançou sua revista Zap Comix nas ruas de San Francisco, durante o chamado verão do amor de 1967.

Por causa do psiquiatra Fredric Wertham e da vigência do Comics Code Authority, os quadrinhos norte-americanos da década de 1950 tornaram-se muito caretas, como um retrato da sociedade em que eram publicados.

Exceto pela humorística e corrosiva revista MAD, criada em 1952 por Harvey Kurtzman, as histórias em quadrinhos do período eram ingênuas e bem comportadas, como as que mostram Batman e Superman  como amigos, que combatem seus inimigos com sorrisos nos rostos.

No entanto, a partir da metade da década de 1960, a situação mudou radicalmente.

O período caracterizou-se por atitudes extremadas tomadas pela geração que nasceu no pós-guerra e na competitiva e consumista sociedade norte-americana.

Na pauta das contestações encontravam-se a revolta contra a guerra do Vietnã, a recusa ao Modo de Vida Americana, a luta contra a discriminação racial e a rejeição das normas morais estabelecidas.

No âmbito cultural, a Contracultura caminhava na contra-mão da Indústria Cultural, dos produtos culturais fúteis, acríticos e produzidos em série apenas para auferir lucro às empresas da área editorial, fonográfica, cinematográfica, entre outras.

O movimento precursor dessa Contracultura ocorreu no final da década de 1950, com a literatura beatnik, prosa e verso que narravam o desconforto com a sociedade, as experiências com álcool e alucinógenos e a atitude de cair na estrada sem destino.

Depois, o rock foi o arauto das revoltas. E, finalmente, na metade dos anos 1960, foi a vez dos gibis alternativos abrirem suas páginas à contestação, à rebeldia, ao sarcasmo, ao sexo, às drogas e à experimentação gráfica.

A revista Zap Comix não foi a primeira publicação alternativa de quadrinhos, mas seu sucesso fez eclodir o movimento que consolidou o Comix Underground  e seu criador, o abilolado Robert Crumb, é considerado o influenciador dos artistas que se preocupam em fazer quadrinhos fora das convenções do mainstream.nal

pesquisa cljornal

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