O Banco Central registrou resultado negativo de R$ 298,5 bilhões em 2022. O balanço foi aprovado nesta quinta-feira (16) pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que não discutiu a revisão das metas de inflação.
Esse resultado negativo, segundo o BC, reflete uma queda de 6,5% do dólar em relação ao real no ano e a subida dos juros americanos (quase 90% dos títulos em moeda estrangeira são pré-fixados).
O prejuízo do BC em operações com reservas e derivativos cambiais foi de R$ 326,5 bilhões em 2022. Já as demais operações somaram R$ 28 bilhões.
Do total, R$ 179,1 bilhões serão cobertos por meio de reserva de resultado e R$ 82,8 bilhões por redução do patrimônio da instituição. O Tesouro Nacional cobrirá o saldo remanescente de R$ 36,6 bilhões.
De acordo com Ailton de Aquino Santos, chefe do departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira do BC, o fato de a autoridade monetária ter 325 bilhões de dólares [mais de R$ 1,5 trilhão] na carteira é a principal razão pelo resultado negativo do BC em 2022.
“Recordando, o dólar em 31 de dezembro de 2021 estava em R$ 5,58 e o dólar de fechamento de 31 de dezembro de 2022 estava em R$ 5,22.
Estamos falando de uma redução de 6,5% na relação dólar e real. Quando se tem nada mais do que quase R$ 1,5 trilhão [na carteira], qualquer movimento de 1 ponto percentual gera uma correção cambial muito relevante”, disse.
De acordo com os dados da autoridade monetária, o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos gerou um prejuízo de R$ 136,3 bilhões ao BC. “A gente teve ganhos de swap de R$ 80 bilhões, isso deu uma acomodação do resultado do Banco Central”, ponderou Santos.
O CMN é formado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, e pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento).
O trio teve um almoço reservado de cerca de 2 horas antes do compromisso oficial. A reunião desta quinta, que teve duração de 28 minutos, contou também com a presença de diretores da autoridade monetária e de técnicos das pastas econômicas.
Foi o primeiro encontro do colegiado desde o início do terceiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e havia muita expectativa quanto a uma possível antecipação do debate sobre metas de inflação, o que não aconteceu.
Uma eventual modificação nos alvos a serem perseguidos pelo BC ganhou força na esteira das críticas de Lula ao atual patamar de juros —a Selic está em 13,75% ao ano.
No cronograma habitual do CMN, o tema é discutido nas reuniões de junho. Mas o assunto pode ser colocado em discussão mais cedo, desde que seja pautado por um dos integrantes do colegiado.
Haddad, contudo, disse na terça-feira (14) que a discussão de mudança na meta não estava prevista.
O último resultado negativo registrado pelo BC foi no valor de R$ 33,6 bilhões, relativo ao segundo semestre de 2020. O prejuízo foi coberto com reservas da instituição e não precisou ser arcado pelo Tesouro.
Desde 2021, a apuração passou a ser anual. Naquele ano, a autoridade monetária teve lucro de R$ 85,9 bilhões, com repasse de R$ 71,7 bilhões ao Tesouro.
A maior parcela do resultado positivo foi obtida com operações não relacionadas ao câmbio, o que inclui o diferencial de juros internos e externos.
A lei prevê que essa fatia dos recursos seja repassada ao Tesouro Nacional, para ser usada exclusivamente no pagamento da dívida pública.
Em 2020, o lucro do BC havia sido de R$ 469,6 bilhões, em grande parte devido ao efeito da expressiva apreciação do dólar sobre o valor em reais das reservas internacionais.
“Este resultado negativo que estamos tendo agora e essa necessidade de cobertura é de uma magnitude muito baixa em relação ao que foi transferido para o Tesouro [nos anos de 2021 e 2020]”, destacou o chefe do departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira do BC.
Nathalia Garcia