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O atentado ao estado laico e a tática nazista por trás do projeto da “cristofobia”

Eduardo Cunha quer dar caráter de urgência à tramitação do projeto de lei que transforma a “cristofobia” em crime hediondo.

Conceito elástico e vago, a “cristofobia” é, grosso modo, a aversão a preceitos e práticas cristãs. Na verdade, é a resposta da bancada evangélica à criminalização da homofobia.

 

O autor é o líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (acusado de fazer “nepotismo cruzado” no DF com um colega).

 

Ele quer aumentar a pena de ultraje a culto para até oito anos de prisão. A performance da travesti Viviany Beleboni na Parada Gay foi o elemento detonador da fancaria.

 

Os parlamentares apresentaram uma nota de repúdio ao evento, denunciando a “tentativa de desmoralizar a crença de milhões de brasileiros, com provocações desnecessárias, atitudes nefastas, inescrupulosas e reprováveis”.

 

Na quarta feira, 10, ocorreu algo inédito no Congresso, baixo mesmo para os baixos padrões da Casa: a votação da reforma política foi interrompida para que evangélicos afrontassem abertamente o estado laico.

 

Com cartazes em punho, gritando “respeito”, invadiram as tribunas do plenário e cercaram a mesa. No final, de mãos dadas, rezaram o Pai Nosso e depois berraram “Viva Jesus Cristo”.

 

Indagado sobre o “protesto”, Cunha, cinicamente, agiu como se tivesse sido pego de surpresa. “Não posso impedir a manifestação do parlamentar, não posso calar a boca de parlamentar”, disse.

 

Marco Feliciano o desmentiu, contando que Cunha fora avisado com antecedência – a coisa foi acertada na véspera.

 

Havia os cúmplices aventureiros. Carlos Sampaio, o líder do PSDB que encampou o impeachment até Aécio mandá-lo sossegar o facho, defendeu que “a reza é bem menos ofensiva do que os excessos cometidos na parada”.

 

A separação entre igreja e estado sempre foi uma formulação odiada pela direita religiosa. Sob a desculpa de proteger sua fé, gente como Cunha, Feliciano e Magno Malta luta para impor sua definição limitada de cristianismo.

 

O que eles desejam é estabelecer sua crença como regra na organização do direito, da política e da cultura.

 

A vitimização é mais uma mentira de pastores acostumados a mentir para seus fieis. Quem são esses homens para regular o que é ofensa a Jesus e o que não é?

 

O fanatismo religioso existe para minar instituições democráticas. Como qualquer movimento radical, eles não estão dispostos a coexistir (e não são, portanto, conservadores, como se vendem).

 

Adversários políticos ou ideológicos são satanizados e devem ser dizimados. O mundo precisa ser purgado desse mal.

 

A leitura literalista da Bíblia os transforma em ungidos de Deus, responsáveis por livrar o Brasil do apodrecimento e da corrupção, inclusive a moral. É notável a semelhança com o nacional socialismo.

 

Os nazistas tinham a convicção absoluta de que sabiam o que era o melhor para a Alemanha e esse objetivo deveria ser perseguido de qualquer maneira, eliminando grupos “minoritários” que não faziam parte do projeto de pureza.

 

Como os nazistas, eles usam o medo, uma ameaça externa qualquer, para impor sua doutrina. Na Alemanha, era o comunismo e o internacionalismo judeu.

 

Aqui é o bolivarianismo e a derrocada da família por causa de “homossexuais”, “abortistas” e “esquerdopatas”. Também como no nazismo, a direita religiosa precisa salvar as pessoas comuns da degenerescência.

 

O fato de terem desfilado no plenário da Câmara, pelo menos, expôs a sua falta de escrúpulos e os tirou definitivamente das sombras. O que os brasileiros farão com a farsa da “cristofobia” é outra questão.

Fonte: Kiko Nogueira

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