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O caminho tortuoso do centro

Alckmin e Temer

Disseminou-se uma sensação pelo país de que as eleições de 2018 serão vencidas pelo candidato que conseguir reunir o centro do eleitorado, insatisfeito com as opções radicais que hoje lideram as pesquisas – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Jair Bolsonaro.

A perspectiva de um segundo turno polarizado entre Lula e Bolsonaro inquieta empresários e lideranças políticas. A busca pelo tal “centro” esbarrou em nomes tão díspares quanto Luciano Huck, Joaquim Barbosa, Marina Silva, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia ou Geraldo Alckmin. Mas será que ela oferece mesmo um antídoto à polarização?

Num sistema eleitoral em dois turnos, como o brasileiro, é mesmo difícil a um extremista vencer, como demonstram os casos recentes da França e do Chile . A polarização é inevitável, porém, se o terreno estiver fragmentado.

A dez meses da eleição, antes de saber se Lula será mesmo candidato ou se terá de ser substituído em virtude de sua provável condenação na Justiça, ainda há grande indefinição sobre o quadro eleitoral.

Independentemente de Lula, contudo, um fator será crítico: a composição entre PMDB, PSDB e DEM. Mais pra lá ou mais pra cá, são esses, em teoria, os partidos que ocupam o tão venerado “centro”. Se chegarem rompidos à eleição, a polarização entre os extremos os engolfará.

O motivo para isso é simples: não há comprovação empírica para a noção de que apenas um entre vários nomes lançados aglutinará o voto centrista. Todos aqueles citados ou têm base partidária ou reconhecimento público suficiente para, ajudados por uma boa campanha, alcançar um patamar mínimo entre 5% e 10% dos votos.

Dado que o eleitorado dos extremos se mostra constante e consolidado, apesar da predominância de votos indefinidos, o resto é questão aritmética. Um candidato com 17% dos votos válidos – patamar de Bolsonaro nas pesquisas – pode perfeitamente passar ao segundo turno. Foi o que aconteceu com Lula em 1989 (ele teve 17,2%).

Na hora em que os votos começarem a migrar de um lado para o outro ao sabor da campanha, tanto Lula quanto Bolsonaro levam vantagem, por dispôr de uma narrativa clara, com inimigos definidos e um discurso fácil de entender. Na ausência de um nome centrista consolidado, quem odeia um lado gravita naturalmente para o outro.

O movimento político a observar nos primeiros meses do ano, portanto, é um só: haverá reaproximação entre PSDB e PMDB? Se houver, natural que o DEM ande a reboque e que se consolide um candidato no centro. Se não houver, provável que Meirelles, Alckmin e Maia estejam na urna.

A maior dificuldade do movimento de aproximação é que nenhum dos nomes que se apresentam ao centro convence:

  • Alckmin já perdeu uma eleição para Lula e, embora gestor comprovado no governo de São Paulo, jamais foi um candidato carismático.
  • Meirelles é tudo aquilo que o brasileiro médio detesta: executivo de sucesso, banqueiro, rico, enfim, o mais acabado representante da elite e do statu quo – que os populistas atacam sem piedade.
  • O presidente Michel Temer, visto por alguns como alternativa a Meirelles, tem chance desprezível de reeleição, em virtude da alta taxa de rejeição a seu governo.
  • Maia não tem o cacife político necessário para a disputa.

Em consequência do pouco brilho de todos, cada um se julga no direito de insistir na própria candidatura. Nem que só para ver se cola.

Apesar da dificuldade, há um caminho para fazer confluir os interesses políticos de Alckmin e Temer. Ambos gostariam de ver a Operação Lava Jato bem longe. Para Alckmin, o apoio à reforma da Previdência (da qual se veria livre no início do mandato) e um pacto tácito para sufocar a Lava Jato seriam excelentes moedas de troca a pagar pelo esvaziamento da candidatura peemebista.

Mesmo assim, tal movimento seria um passo atrás para Temer. Hoje ele detém o poder. O risco de apoiar Alckmin é amanhã ficar sem o poder e, ainda por cima, sair derrotado da eleição. Nesse caso, tudo o que restaria ao PMDB seria a Lava Jato nos calcanhares. Alckmin precisa daquilo que Temer tem hoje. Temer precisa daquilo que Alckmin poderá ter amanhã. A própria incerteza eleitoral gerada pela polarização Lula-Bolsonaro dificulta essa aproximação.

O grande obstáculo imposto pela democracia aos políticos é que, na realidade, o poder deriva do voto. Se os brasileiros se inclinarem por uma opção populista, a classe política será tomada no contrapé em suas confabulações de gabinete. Como tem acontecido no mundo todo.

Por Helio Gurovitz

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