La Paz e Brasília estreitaram os laços para o desenvolvimento conjunto de plantas de produção de fertilizantes, minerais e combustíveis, entre outros projetos de relevância econômica para os países.
O analista Juan José Bedregal falou à Sputnik sobre o efeito positivo de o Brasil ter recuperado a liderança na região e o significado para a Bolívia.
Nas últimas semanas, os governos de Luis Arce e Luiz Inácio Lula da Silva assinaram memorandos de entendimento em diversas áreas, como produção de energia, fertilizantes, bem como cooperação para o desenvolvimento de biocombustíveis na Bolívia.
São as primeiras iniciativas conjuntas realizadas desde a entrada do Estado Plurinacional no Mercado Comum do Sul (Mercosul) como membro pleno, o que foi conseguido graças ao apoio do atual presidente do Brasil.
“Os acordos implicam promover o desenvolvimento de usinas e trocas para o desenvolvimento da política de biocombustíveis que trabalhamos no país. Faz parte também da ação de promoção de investimentos que, sem dúvida, surte efeito. Falamos de biocombustíveis e biotecnologia que é necessária para aumentar a produção de matéria verde”, disse o ministro de Hidrocarbonetos e Energia, Franklin Molina Ortiz, ao canal estatal Bolivia TV.
O memorando também prevê a produção conjunta de fertilizantes. “Esta cooperação estratégica nos permite não só realizar estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, mas também configurar projetos de engenharia para atrair investimentos para o nosso país e, logicamente, melhorar o comércio de fertilizantes fosfatados e potássicos”, disse o ministro.
Para o analista econômico Juan José Bedregal, a aproximação entre Brasil e Bolívia faz parte da política promovida pelo presidente brasileiro desde sua posse.
Da mesma forma, o analista se mostrou otimista quanto ao impulso que o vínculo reforçado que o governo Lula dará ao Estado Plurinacional, que neste período conseguiu fazer do gigante sul-americano a nona economia mais importante do mundo.
“Vemos uma recuperação das relações bilaterais de mãos dadas com um Brasil que recupera a liderança econômica e geopolítica na região. Um Brasil que se posiciona diante do mundo como um dos líderes da economia global junto com o BRICS”, o bloco de países emergentes originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, disse Bedregal à Sputnik.
O economista destacou a capacidade propulsora que o Brasil tem para outras economias da região: “É o país que mais cresce na América do Sul. Assim, se torna uma locomotiva de crescimento, porque a maioria dos países sul-americanos tem fortes relações comerciais com o Brasil. Portanto, enquanto a economia brasileira estiver prosperando, ela também impulsionará nossas economias.”
Desde 2017, a planta de produção de ureia funciona em Bulo Bulo, Trópico de Cochabamba (centro boliviano). Durante 2023, dois terços de sua produção foram vendidos para o Brasil.
Naquela região, foi inaugurada no final do ano passado a fábrica de fertilizantes granulados NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), cuja produção anual será de 60 mil toneladas. Segundo o Ministério dos Hidrocarbonetos, o país vizinho tem interesse em comprar a maior parte deste produto, que atualmente exporta quase na sua totalidade.
O acordo contempla cooperação estratégica para estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, visando o desenvolvimento de projetos em Tres Lagunas e Cuiabá, no Brasil, para a produção de fertilizantes entre a estatal brasileira Petrobras e Yacimientos Petrolófilos Fiscales de Bolivia (YPFB).
O mesmo setor será desenvolvido na cidade fronteiriça de Puerto Quijarro, no departamento boliviano de Santa Cruz (leste). Da mesma forma, serão produzidos avanços nos projetos de extração de sódio e outros metais das salinas de Uyuni, em Potosí, e de Copaisa, em Oruro.
Segundo Bedregal, “encontramos um mercado importante na América do Sul, pois na Bolívia estamos rodeados de potências agroindustriais muito importantes, como o Brasil e a Argentina. Portanto, é muito importante fornecer fertilizantes”.
Com os projetos em desenvolvimento, “a Bolívia pretende se tornar um dos mais importantes produtores de agroinsumos em nível regional”.
O economista lembrou que quando a fábrica de Bulo Bulo foi inaugurada, “a oposição ao então presidente Evo Morales [2006-2019] criticou o projeto de ureia e amônia. Eles não tinham a visão de que a Bolívia poderia se tornar um importante fornecedor de agroinsumos em nível regional”.
Da mesma forma, Bedregal destacou que durante anos a Bolívia exportou gás como matéria-prima. “Hoje demonstramos que é possível agregar valor ao gás, por meio da ureia, da energia elétrica, do gás liquefeito de petróleo e de outros tipos de combustíveis consumidos na região”.
Essas exportações, “claro, representam uma maior receita de divisas para a Bolívia. A abertura de novos mercados, fundamentalmente o brasileiro, é importante para o país”, disse o entrevistado.
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