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Para cientista política, Bolsonaro ficou em silêncio no depoimento a PF por medo de ser preso

Bolsonaro deixando a PF após ficar calado em depoimento

Na presença da Polícia Federal (PF) para depoimento marcado no âmbito das investigações sobre a tentativa de golpe de estado, Jair Bolsonaro preferiu não dizer nada.

O ex-presidente ouviu em silêncio os questiomentos feitos pelos agentes na quinta-feira (22), após duas tentativas frustradas de adiar o depoimento.

Os pedidos de postergação do interrogatório foram apresentados ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante a semana.

A defesa alegou que Bolsonaro ficaria calado pois não teve acesso à delação premiada de Mauro Cid, seu ajudante de ordens durante a presidência. O tribunal justificou a negativa com a afirmação de que os advogados do ex-presidente já tem acesso a todas as provas anexadas no processo.

Cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart afirma que Bolsonaro ficou quieto e não criou alarde em cima do depoimento pois sabe do risco de ser preso.

“Ele perdeu uma oportunidade de vir a público se justificar, falar com seus apoiadores, relembrar a importância dos bolsonaristas de se manter firmes no apoio e na presença das manifestações do domingo.

Eu acho que ele optou por não fazer nada disso porque ele percebe que existe, talvez pela primeira vez, uma ameaça, de fato, para sua liberdade (…) Eu acho que o medo de ser preso justifica essa estratégia adotada”, analisa Goulart.

Decidiram responder os questionamentos da Polícia Federal o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e os ex-assessores do ex-presidente Tercio Arnaud e Filipe Martins.

Com a mesma estratégia adotada por Jair Bolsonaro, ficaram em silêncio o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno; o ex-ministro substituto da Secretaria-Geral da Presidência, Mário Fernandes; o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier; o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira; o ex-ministro da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto; e o oficial do Exército Ronald Ferreira Junior. Os depoimentos aconteceram simultaneamente para não haver combinação de versões dos investigados.

“Era se de esperar que os acusados não produzissem falas que os prejudicassem nas investigações conduzidas pela Polícia Federal (…) Ainda não foi preparado pra além do vitimismo uma estratégia propriamente argumentativa sobre o ocorrido.

Não tem ainda uma narrativa para além de ‘a imprensa está querendo nos perseguir, quer acabar com o legado de Jair Bolsonaro’. Não há estruturada ainda, propriamente, uma narrativa que explique e que justifique o comportamento desses atores.

Porque eles, de fato, não têm compromisso com o Estado Democrático de Direito”, argumenta a cientista política.

Mayra Goulart também falou sobre o ato convocado por Jair Bolsonaro para o próximo domingo (25). A ideia é que o ex-presidente possa se defender das acusações. Deve haver o cuidado de evitar um tom golpista no evento, que será na Avenida Paulista e contará com a presença de aliados.

“Ele quer dar essa impressão de que é capaz de provocar tumulto social caso as investigações prossigam e, então, desestimular os investigadores.

A segunda razão é estimular atores políticos nacionais e internacionais a manifestar apoio a ele. Como a gente sabe, todo político quer base eleitoral, apoiadores, seguidores… (…)

Há um risco porque por mais que ele esteja bem brifado dos limites daquilo que pode ou não falar, daquilo que seus apoiadores devem ou não falar, quando você está diante de uma multidão, há um elemento do imponderável.

Diante de uma massa de pessoas gritando seu nome, pode se emocionar”, conjectura Goulart.

Edição: Matheus Alves de Almeida

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