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A direita cresce e a esquerda some – Ditadura do pensamento em tempos de polarização

vivemos

Os erros permanentes e o radicalismo da esquerda dão fôlego e crescimento assustador à direita. O mesmo discurso, as ideias antigas, as mentiras desmedidas e a linguagem planfetária não conseguem a conquista de novos adeptos. Só quem pensa corretamente é o esquerdista, todos estão errados.

Só quem lê são os esquerdistas. O melhor cantor, o melhor poeta, o melhor compositor, o melhor escritor, o melhor tal e tal é esquerdista – e, simplesmente, a direita não pensa.

E quem não pensa como o esquerdista é um alienado.

Esse discurso não cola mais. Caiu em descrédito. É conversa fiada.

Todavia, a realidade é outra e o sonho está se acabando. E quando acordar estará em profundo pesadelo.

Observamos um fato curioso e muito interessante que merece uma análise. Depois de passarem-se as eleições, estávamos sentados na praça de alimentação do shopping.

De repente, levantamos o olhar e avistamos uma leva de 30 (trinta) jovens (rapazes e garotas) que se sentavam enfileirados, usavam calça jeans e camiseta branca, traje asseado, cabelos penteados e roupas bem passadas, aparentando boa índole, e todas as camisetas mostravam nas costas uma fotografia de Bolsonaro.

Começaram a tomar cerveja, rolavam o papo e cada um opinava sobre o assunto. Estávamos um pouco distantes e não dava para pegar o mote da discussão.

O som musical atrapalhava um pouco e a audição não ficava perceptível. Em dado momento, o cantor/vocalista dedica a música “Parabéns pra Você” a uma menina que fazia parte da comitiva.

No final da melodia, todos se abraçaram e levantaram um banner de aproximadamente 10 metros de comprimento, com os dizeres: “DIREITA PARAÍBA”. Eram aplaudidos por quase todo o auditório.

Nesse momento, revivemos o passado. Lembramo-nos do ano de 1968, conhecido como “o ano duro”. Aquele foi um ano de grandes manifestações e marcos para a história, não só no Brasil, mas, também na Europa, nos Estados Unidos, na Tchecoeslováquia e no México.

Tudo acontecia quase que ao mesmo tempo: a Guerra no Vietnã, a Primavera de Praga, o assassinato de Martin Luther King e Robert Kennedy, o Decreto do AI-5, a Tropicália, o Festival de Cannes.

Pois é! Como as coisas mudam de lugar… No nosso tempo de movimento estudantil universitário, essa tarefa de formador de opinião política cabia aos universitários de esquerda, a chamada doutrinação; vestiam-se desajeitados, com aquele tradicional estilo Che Guevara, usando boina ou os cabelos desalinhados, a tiracolo de couro no ombro e cigarro no bico, ou imitando a tribo hippie, ouvindo-se a música “PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”, de Geraldo Vandré, considerada o hino da juventude estudantil, bebericando num boteco qualquer da esquina. Até o estilo de vida é completamente diferente.

E lembramo-nos do nosso conterrâneo, o advogado, cantor e compositor Geraldo Vandré, nome artístico utilizado pelo paraibano Geraldo Pedroso de Araújo Dia, em 1968, quando participou do III Festival Internacional da Canção com “Pra não dizer que não falei de flores”, mais conhecida por Caminhando.

O peso dos anos de chumbo na memória de um promotor de Justiça.

A música surgiu como um apelo nacional de mudança e veio ao encontro das aspirações do povo brasileiro, que vivia um regime de opressão e instabilidade econômica, social e política.

A letra trazia toda a força, inconformidade e o chamado de luta e de mudança, características próprias da juventude.

Ela fala em união, igualdade, integração, e aborda os problemas sociais da época; a pobreza, a reforma agrária, a vida dos soldados nos quartéis, a inutilidade das guerras, conclamando a todos para uma ação conjunta de mudanças, sem demora.

A composição se tornou um hino de resistência do movimento civil e estudantil, que fazia oposição à ditadura militar, e foi censurada.

O refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer” foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores, segundo os censores da época.

E a Tropicália?

Coloque num mesmo ano a Guerra do Vietnã, protestos pacifistas, invasão da Tchecoslováquia, contracultura, assassinato de Robert Kennedy e Martin Luther King, movimentos pela liberação sexual, racial, artística, cultural e política, manifestações estudantis, viagens espaciais, ditadura militar, ecologia.

Festivais da Record, Jimi Hendrix, Bob Dylan, Jim Morrison, Janis Joplin, Beathes, Joe Cocker, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Grateful Dead, hippies. Comando de Caça aos Comunistas, paz e amor, drogas, Bonnie and Clyde, Tropicalismo, Roberto Carlos, Roda Vida.

Tudo isso ao som de guitarras eletrificadas, tiros, gritos de guerra, canções de protestos, bombas de gás e de napalm.

Depois do golpe militar de 1964, o Brasil vê-se diante de 10 anos de censura, repressões, torturas. Mas nenhum desses anos foi tão duro quanto o de 1968, depois da morte do estudante Edson Luís, que foi assassinato pela polícia.

Os estudantes se revoltaram e foram para as ruas pedir por mais liberdade, democracia, melhores condições de estudo e, principalmente, pelo o fim da ditadura.

Entre as manifestações surgiu um movimento chamado Tropicalismo, que além de seus principais representantes, Caetano Veloso e Gilberto Gil, contavam também com artistas como Gal Costa, Tom Zé, Mutantes, Nara Leão, etc.

Os tropicalistas mudaram o conceito de bossa nova e surgiram com uma nova linguagem de MPB. Incorporou instrumentos às composições, e as letras das músicas eram recheadas de protestos, críticas e desabafos.

Misturaram gêneros, cores, estilos e foram essenciais para caracterizar a história do país daquela década.

Infelizmente, o Tropicalismo não durou muito. Depois da morte do estudante Edson Luís, surgiram grandes manifestações no transcorrer do ano – como foi o caso da Passeata dos Cem Mil, com a participação efetiva de artistas, padres, mães, estudantes, intelectuais etc.

Podemos assim dizer que foi um tempo de sangue, suor e lágrimas. Quem viveu sabe quanto terrível foi aquele passado.

Atualmente, a minúscula chamada esquerda ainda existente, se não mudar o estilo de agir e pensar, acabando com esse radicalismo desvairado, com o passar do tempo não conquistará um só adepto para fazer um chá que sirva de remédio caseiro.

Esse novo processo de transformação passa, efetivamente, por uma reciclagem de consciência política.

Fábio Góis

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