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A entrevista de Mariana Godoy com Temer foi enfadonha ele continua sendo um zero a esquerda

Mariana Godoy e Temer

O problema da entrevista de Mariana Godoy com Temer, que foi ao ar na noite passada, é exatamente este: Temer.

Temer tem todos os predicados que fazem uma entrevista com ele ser enfadonha, cinzenta, monótona. É o pesadelo dos entrevistadores.

Graça, carisma, bom humor: é isso que um jornalista espera de um entrevistado. E Temer é zero em tudo aquilo, e muito mais.

Mesmo o português correto — tão usado por conservadores para fazer um contraste com os erros de Dilma — é antes um defeito que uma virtude. Sabe aquele professor chato, aquele cara que não falha numa concordância mas que ninguém suporta ouvir mais que uns poucos minutos?

No português, Lula erra e faz rir. Temer acerta e faz bocejar.

Mariana opôs pouca resistência ao entrevistado maçante.

Ela tem que corrigir um problema grave no jornalismo de entrevista: a insistência com que aquiesce, com a cabeça, a tudo o que o outro afirma.

Mesmo num programa como o dela, cuja proposta não é promover pugilatos verbais, é necessário um mínimo de tensão entre o jornalista e o entrevistado.

Essa fraqueza de Mariana se mostrou sobretudo quando Temer, com ares de tiozão benevolente, começou a dizer que jamais faria um governo que prejudicasse os pobres etc etc.

Faltou a ela repertório para, se não polemizar, ao menos fazer contraponto às falácias de Temer.

Ele voltou a recitar lugares comuns de Margaret Thatcher, o que demonstra que sua cabeça ficou parada em algum momento da década de 1970 ou 1980.

No aspecto da curiosidade, ele disse que gostaria de ser “mais ousado”, se pudesse. Você pode substituir, aí, ousadia por coragem, destemor — aquelas coisas que revelaram tanto da alma de Temer em suas fugas da possibilidade de ser vaiado.

A vida é bem mais mansa ali no aconchego refrigerado de Mariana Godoy do que em contato com aquele tipo de coisa que gente como Temer abomina — o povo.

Paulo Nogueira

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