Uma escalada do conflito entre Israel e Hamas pode levar a problemas em toda economia mundial, como aumento no preço do petróleo e da pressão inflacionária, revertendo alguns dos avanços econômicos conquistados pelo Brasil neste ano, afirmaram especialistas.
Em entrevista ao Jabuticaba Sem Caroço, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Thaiana de Oliveira e Maurício Bastos, especialistas foram ouvidos quanto às possíveis implicações para o Brasil do conflito entre Israel e Hamas, sejam elas econômicas ou diplomáticas.
Para Mauro Rochlin, economista e coordenador do MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a “dimensão global que o problema assume faz com que o Brasil seja eventualmente impactado pela guerra”, no entanto, o efeito na economia brasileira vai ser indireto, uma vez que o país tem relações comerciais muito pequenas com Israel.
Felipe Reis, professor e coordenador do curso de relações internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), concorda com Rochlin, destacando que, apesar de não ter dados, comercializar com a Palestina é muito difícil uma vez que os seus territórios são controlados por Israel.
“Todo comércio da Palestina passa através de Israel, porque os palestinos não têm possibilidade de determinar as suas relações exteriores”, disse Reis.
“Agora, indiretamente, o conflito pode atingir a economia brasileira uma vez que os envolvidos são países produtores de petróleo”, disse Rochlin, se referindo a nações como Qatar, Arábia Saudita e Irã, que estão no entorno da região.
Samuel Feldberg, professor de relações internacionais, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), e diretor do Conselho Acadêmico da Stand With Us Brasil, destaca que se houver um envolvimento do Irã no conflito, isso afetaria “todo o trânsito de petroleiros no golfo Pérsico, elevando o preço mundial do petróleo”.
Os efeitos no preço do petróleo
Um aumento no preço do petróleo, explicam os especialistas, aumenta a pressão inflacionária sobre um todo, uma vez que o produto é uma matéria-prima utilizada em diversas etapas da economia, desde a produção de materiais ao transporte de bens e pessoas, como serviços de transporte público, aviação e a gasolina.
A elevação do preço do barril poderia desfazer algumas das conquistas econômicas alcançadas durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que reduziu a inflação para 4,5%.
Rochlin destaca que, em maio do ano passado, no acumulado de 12 meses, a inflação estava registrando 12%.
“Se você olhar por dentro desses números, você vai ver que o impacto do chamado grupo transportes, onde se encontra o item combustíveis, é muito pronunciado, é muito forte”, afirmou.
“Então, se a gente vir uma nova escalada no preço do petróleo, é óbvio que a gente vai ver uma coisa muito parecida acontecer.”
No entanto, este não parece ser o cenário que se monta. Em 7 de outubro, quando o conflito se agravou, o preço do barril de petróleo brent batia US$ 96 no mercado internacional. Hoje, o produto é negociado a US$ 83, ou seja, houve uma queda.
“Se no final das contas não houver ameaça maior à oferta de petróleo, eu acredito que o impacto pode ser pequeno”, afirmou Rochlin
Fabian Falconi