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Viagra feminino promete aumentar prazer sexual das mulheres

É a Lady Prelox, que vem sendo considerada o "viagra feminino".

A aprovação, pelo Food and Drugs Administration (FDA), agência que regula alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, da flibanserina, que vem sendo chamada de  “viagra feminino”,  é mais um round na busca por pílulas milagrosas que resolvem a vida. Para os profissionais que atuam diretamente com sexualidade feminina, a libido da mulher é complexa e dificilmente um remedinho vai trazer de volta o prazer sexual perdido.

— Se a mulher passar de calcinha no corredor, o homem já vai achar que ela está a fim de transar… e ela nem está lembrando que ele está em casa.

A situação, citada como exemplo pelo ginecologista Alberto D’Auria, serve para explicar como o funcionamento da sexualidade é tão distinto entre os gêneros. As mulheres são emocionais, por isso é preciso mexer com a emoção delas. E a Addyi (nome comercial do produto), que tem como base moléculas que trabalham com a recaptação de serotonina no cérebro, não é exatamente uma novidade, mas pode virar uma nova “muleta” na busca pelo prazer.

— O homem produz testosterona e é premiado com uma certa burrice, que confere a eles uma alegria permanente. Se tiver uma vagina para penetrar, uma cerveja e um amigo, ele já estará feliz. A sexualidade do homem é genital. A mulher é um ser nutrido por estrógeno, que dá a elas uma complexidade absurda. Elas misturam o lado esquerdo e direito do cérebro, o que confere a elas racionalidade, romantismo e esperteza. Como a mulher é mais complexa, a libido dela fica mais suscetível a variações e variáveis.

Libido, é bom que se diga, não é apenas a sexualidade genital. É, segundo o médico, o prazer e alegria em tudo que rodeia o dia a dia das pessoas, o trabalho, a paisagem, as amizades. Para D’Auria, o novo medicamento não deve ser nada explosivo, nem que vai mudar o caminho da humanidade.

— As mulheres brasileiras podem experimentar e associar isso a um amparo, uma muleta, um caminho mais prático para o prazer. Em todo caso, o que vier para ajudar, será bem-vindo.

The experimental drug flibanserin, made by Sprout Pharmaceuticals, is at the center of a regulatory controversy.
The experimental drug flibanserin, made by Sprout Pharmaceuticals, is at the center of a regulatory controversy.

Para o psicólogo Oswaldo Martins Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, o desejo sexual feminino está ligado a estímulos que atinjam os cinco sentidos e dependem de mecanismos que exigem a interação entre duas pessoas. Além disso, a primeira vez que o tal viagra feminino foi apresentado em um congresso na Europa, os números de algum grau de funcionamento eram perto de 30%, o que é considerado um placebo).  “Funciona, mas se der açúcar, vai funcionar do mesmo jeito”.

E tem mais: sem desejo sexual, nem os medicamentos já conhecidos e indicados para impotência sexual masculina, funcionam. Tanto que, segundo Rodrigues, as pesquisas recentes dessas substâncias (como Viagra e Cialis) têm demonstrado que as pílulas funcionam para quem não precisa do medicamento. E as indústrias já estão buscando novas aplicações para essas substâncias. O Viagra, por exemplo, vem sendo usado em bebês prematuros, pois ajuda no desenvolvimento do pulmão das crianças.

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 A recuperação do desejo depende, segundo Rodrigues, de sentir motivação. É possível ajudar alguém a mudar e a desenvolver o desejo sexual se a pessoa quiser, mas ela tem de compreender as variáveis que produzem esse desejo.

— Não é tomar uma pílula e “agora tenho desejo”. Como é que vou usar substância que atua no cérebro para substituir a responsabilidade sobre a ação sexual. É o mesmo que as pessoas fazem quando dizem que tomam uma cervejinha, uma taça de vinho, e o desejo é liberado pelo álcool. Isso é delegar a responsabilidade para uma substância.

Para ele, a pessoas em estado de bem estar tem mais chance de manter o desejo em alta.

—  A responsabilidade sobre nossa vida é ser feliz, então faça alguma coisa para isso. Estamos produzindo um medicamento para tratar exatamente o quê? Vai usar por quanto tempo? Para o resto da vida, pois cria-se uma dependência, se sei que não funciono sem o remédio, uso o remédio para sempre. Se a pessoa não compreender que sexo faz parte da vida dela, ele não fará. Quem tirou o sexo da vida e não sente desejo, certamente encheu a vida com outras coisas e busca prazer no trabalho, em reuniões, em séries no Netflix…

O remédio, que será comercializado pela Sprout Pharmaceuticals, é recomendado para mulheres na pré-menopausa que sofrem de uma desordem de anorexia sexual, ou seja, a perda repentina de qualquer desejo de praticar sexo.Os principais responsáveis pelo atraso na aprovação foram os efeitos colaterais.

O Addyi pode causar desmaios e diminuição da pressão arterial. Os riscos aumentam com o consumo de álcool. Além disso, o uso de outros remédios interferem na absorção do medicamento pelo organismo. A FDA rejeitou em outras duas oportunidades o “viagra feminino”.

Deborah Bresser

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