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A condenação da maçonaria/ por Luigi Sandri

Dom Victor Fernández

“De qualquer forma, após o Concílio Vaticano II (1962-65), as polêmicas Igreja-Maçonaria diminuíram quase em todos os lugares. Não apenas isso; lembrando que o pontífice, em 2019, junto com Ahamad al-Tayyib, o Grande Imã de Al-Azhar (no Cairo), assinou o Pacto pela Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Coexistência Comum, dois anos depois, a Grande Loja espanhola divulgou uma mensagem instando ‘todos os maçons do mundo a se unirem à petição do Papa Francisco pela fraternidade entre pessoas de diferentes religiões'”, escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L’Adige, 20-11-2023.

Eis o artigo.
O texto do prefeito Fernández parece singular. Talvez, implicitamente, ele se dirige a algum importante eclesiástico, próximo a Roma e suspeito de estar inscrito na Maçonaria.

Somente o tempo, portanto, poderá esclarecer o sentido de uma intervenção curial bastante atípica.

Fora dos radares do Vaticano por algum tempo, a questão da Maçonaria voltou subitamente à atualidade quando, na semana passada, o cardeal Victor Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), interveio no tema.

Fernández reafirmou a “inconciliabilidade” entre a adesão às lojas maçônicas e a fé católica, reabrindo assim um antigo problema histórico e teológico.

Dom Julito Cortes, bispo de Dumaguete nas Filipinas, impressionado com o contínuo aumento, em sua diocese (1,2 milhão de habitantes, quase totalmente católicos), de fiéis inscritos na maçonaria, pediu à Santa Sé orientações sobre como lidar com essa situação singular.

E o cardeal argentino – há três meses à frente do DDF – em 13 de novembro reiterou o que um documento curial estabeleceu há quarenta anos:

“A filiação ativa à Maçonaria por parte de um fiel é proibida, devido à inconciliabilidade entre a doutrina católica e a maçonaria”; portanto, os católicos inscritos nas lojas maçônicas estão “em estado de pecado grave”.

Sem percorrer aqui a complicada história das relações entre a Igreja Romana e Maçonaria, basta dizer que Clemente XII, em 1738, foi o primeiro pontífice a proibir a participação nela, por professar ideias filosóficas e morais contrárias à fé católica, que fala de um Deus trinitário e não, como as Lojas, de um vago Grande Arquiteto do Universo.

O julgamento de Leão XIII foi ainda mais severo, que, na encíclica “Humanum genus”, em 1884, chamou a seita maçônica de “ímpia e tenebrosa”; e o Código de Direito Canônico (CIC), de 1917, ameaçou com a excomunhão os católicos filiados.

O novo Código de 1983 não lista mais essa punição, mas, explica Fernández, permanece “gravemente pecaminoso” aderir a ela.

A Maçonaria, presente em muitos países, não teve os mesmos relacionamentos com a Igreja em todos os lugares.

Assim, na Itália no século XIX, foi acusada de apoiar (como também faziam muitos católicos, e com razão!) aqueles que queriam abolir o Estado Pontifício; uma situação contingente que não existia em outros lugares.

De qualquer forma, após o Concílio Vaticano II (1962-1965), as polêmicas Igreja-Maçonaria diminuíram quase em todos os lugares. Não apenas isso; lembrando que o pontífice, em 2019, junto com Ahamad al-Tayyib, o Grande Imame de Al-Azhar (no Cairo), assinou o Pacto pela Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Coexistência Comum, dois anos depois, a Grande Loja espanhola divulgou uma mensagem instando “todos os maçons do mundo a se unirem à petição do Papa Francisco pela fraternidade entre pessoas de diferentes religiões”.

Foi, portanto, um convite solene a todas as fés para cooperar, com respeito mútuo, pela paz no mundo.

Portanto, o texto de Fernández – coassinado por Bergoglio! – parece singular, respondendo formalmente a um prelado das distantes Filipinas, mas que, talvez implicitamente, se dirige a algum importante eclesiástico, próximo a Roma e suspeito de estar inscrito na Maçonaria.

Somente o tempo poderá esclarecer o sentido de uma intervenção curial bastante atípica.

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Luigi Sandri

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Carlos Lima

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