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Meirelles e o Orçamento: a “equipe dos sonhos” virou “o sonho da equipe

O “jornalismo de mercado” e “o mercado” vivem repetindo a frase que o “vice-presidente” de Michel Temer, o notório Eliseu Padilha soltou como senha: “temos a equipe econômica dos sonhos”.

Pois a “equipe dos sonhos”, pela boca de seu chefe, Henrique Meirelles, de onde veio a redução do rombo que é, como dizem todos, a “sinalização positiva” para os agentes econômicos.

Está na matéria de Fábio Graner, no Valor, com meu grifo:

Ele [ Meirelles] informou ainda que, dentro dos R$ 55 bilhões de receitas extraordinárias consideradas para o ano que vem,mais da metade (R$ 30 a R$ 35 bilhões) devem ser decorrentes de uma melhora da atividade econômica que não havia sido capturada no cenário base da receita, e o restante deve ser de vendas de ativos, privatizações, concessões e outorgas. “Se isso não acontecer, aí podemos subir impostos. Para garantir o cumprimento dos R$ 139 bilhões”

Desculpem a ignorância: se a “melhora da atividade econômica”  não havia sido “capturada” nas análises técnicas, de onde veio?

Do pensamento positivo? Das esperanças? Das orações? É “o sonho da equipe dos sonhos”?

Já ontem, Renato Andrade, na Folha, escrevia:

O resultado projetado considera uma entrada espetacular de R$ 55,4 bilhões nos cofres federais ao longo do próximo ano, fruto de venda de ativos, leilões de concessões na área de infraestrutura e outras ações –não explicadas pela equipe econômica de Michel Temer nesta quinta (7) – que, por enquanto, não passam de um exercício de projeções e fé.

Fé pode remover montanhas, o que remove déficit é o terreno dinheirinho.

Os cortes das despesas, sim, podem ser previstos, planejados, embora aí também com certo otimismo, porque consideram que vão obter aprovação legislativa, por mais perversos que possam ser.

Mas o aumento da receita, salvo pela adoção de impostos, não é objeto de vontade, mas resultado a posteirori de uma aceleração da economia. E que sinal há de aceleração da economia que seja visível?

Os “melhores” indicadores que já surgiram nos 60 dias de Temer foram de que algumas das quedas não se ampliaram, continuaram ao nível do mês anterior.

Portanto, o resumo da história orçamentária é o seguinte, em português claro, nas palavras do próprio Meirelles:

1- Se tudo continuasse como vai, o déficit seria da ordem de R$ 270 bilhões;

2- Os cortes nas despesas planejado é de monstruosos R$ 76 bilhões, resultando num déficit de R$ 194 bilhões. Como este corte é impossível nas despesas correntes, por mais que se as comprima, significa investimento público praticamente zero;

3 – As receitas extraordinárias obteníveis com privatizações e concessões é de pouco mais de R$ 20 bilhões, chegando a R$ 30 bilhões, na melhor das hipóteses;

4- Os R$ 30 a R$ 35 bilhões de receita por incremento da atividade econômica “não detectado” virão, se não houver milagres, de novos impostos.

Não pense que os coleguinhas do “jornalismo de mercado” e “o mercado” não o sabem.

Sabem, apenas não falam claramente.

Esperam setembro.

FERNANDO BRITO

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