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Infecção de militares com embrião colérico prova que Brasil deve melhorar defesa biológica

O Brasil é frágil na defesa biológica

Risco de uso de armas biológicas aumenta em locais como Ucrânia e Sudão. Mas Brasil não está ileso e caso de infecção de soldados com embrião colérico prova que o país precisa saber se defender de ataque biológico, diz analista militar.

O aumento da retórica agressiva dos EUA em relação a Rússia e China, o  prolongamento do conflito ucraniano e eclosão do conflito no Sudão elevam o risco de uso de armas de destruição em massa.

De acordo com o próprio presidente dos EUA, Joe Biden, o conflito na Ucrânia aumentou o risco de uso de armas nucleares a níveis sem precedentes desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.

“Pela primeira vez desde a Crise dos Mísseis de Cuba, temos uma ameaça direta ao uso de armas nucleares, se de fato as coisas continuarem no caminho que estão seguindo”, disse Biden em outubro de 2022. “Não enfrentamos a perspectiva do Armagedom desde Kennedy e a Crise dos Mísseis de Cuba.”

Desde 1975, a Convenção sobre Armas Biológicas proibiu o uso, desenvolvimento, produção, compra e transferência desses armamentos. No entanto, a convenção não possui nenhum mecanismo para assegurar que seus signatários cumpram o acordo.

Vulnerabilidade do Brasil

“O Brasil é membro da convenção e contra a proliferação de qualquer tipo de armas de destruição em massa, inclusive as biológicas”, disse o analista militar Pedro Paulo Resende à Sputnik Brasil.

Segundo ele, o Brasil controla a exportação de quaisquer materiais que possam ser utilizados para a produção de armas de destruição em massa, sejam biológicas, nucleares ou químicas.

“Somos considerados um dos países que aplica com maior velocidade as determinações de agências internacionais que trabalham com ingredientes para armas de destruição em massa”, disse Resende.

Apesar da ameaça representada pelas armas biológicas, a pesquisa nesse ramo não pode ser completamente eliminada. Países como o Brasil precisam ser capazes de desenvolver planos de defesa contra eventuais ataques biológicos, apontou Resende.

Em 2012, um pelotão de fronteira brasileiro foi atingido por uma derivação do embrião colérico, levando três soldados a óbito e acometendo gravemente outros seis. Apesar de um especialista brasileiro ter sido capaz de isolar o embrião, o país não tinha laboratório capaz de analisá-lo com segurança.

“Precisamos enviar o embrião para um centro de análise dos EUA, que fica em Atlanta”, relatou Resende. “Os norte-americanos receberam o embrião, mas negaram acesso dos brasileiros às pesquisas e ao microrganismo.”

Segundo o especialista, a situação demandou a intervenção do Itamaraty para que os pesquisadores brasileiros pudessem acompanhar os trabalhos.

“Esse embrião era adaptado somente para clima tropical, então o Pentágono poderia desenvolver uma arma para usar contra nós, com um embrião descoberto no Brasil”, considerou o especialista.

Para ele, relatos como esse atestam a necessidade de o Brasil manter o seu repúdio às armas biológicas e se capacitar para defender o território nacional de eventuais ataques.

“Essa é uma das grandes deficiências do Brasil, não temos laboratórios de níveis elevados para pesquisa com elementos biológicos”, lamentou Resende.

Em dezembro de 2022, a Convenção de Armas Biológicas reuniu um novo grupo de trabalho para estudar métodos de verificação, o que atesta a vontade política de diversos países em fortalecer a instituição.

O grupo de trabalho poderá discutir medidas eficientes, como a proibição de ataques a laboratórios biológicos, evitando situações como a ocorrida no Sudão.

A fragilidade do Brasil na defesa de armas biológicas é vergonhosa.

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