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O cachorro machão e seu dono mais macho ainda – Por Mouzar Benedito

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Conheci há muito tempo um homem que também se dizia “imbroxável”. Não usava essa palavra, mas o sentido era esse. Alardeava sua “macheza” como uma glória.

Orgulhava-se de, sendo casado e com vários filhos, manter mulheres na zona de prostituição. Uma na sua cidade e uma numa cidade vizinha. Fingia que não sabia que elas pegavam a grana dele mas tinha muitos “clientes”.

Quando alguém insinuava isso, ele falava bravo que quando entrava na zona, elas se comportavam como sendo só suas.

Seu mais fiel companheiro era um cachorro preto, que por sinal se chamava Preto. Por onde ia o Roberval, o Preto ia atrás. O Preto gostava muito do Roberval. E o Roberval gostava muito do Preto.

Um sábado à noite, Roberval foi jogar truco na casa do Antônio Bigode e o Preto ficou na porta aguardando o dono. Seu Antônio não admitia cachorros dentro de casa.

E o Preto aguardou… aguardou… teve que aguardar a noite inteira. Mas lá dentro, entre um blefe e outro, Roberval falava bem do Preto. Não só do Preto. Na verdade, falava era dele mesmo e da sua própria família. O Preto entrava por tabela.

Começou falando das mulheres da zona que mantinha, e de algumas outras da periferia com quem tinha caso. Deixava no ar as suspeitas se alguns meninos eram ou não filhos dele.

E os filhos… ah, comiam tudo quanto é menina que bobeasse. Aí chegou ao cachorro:

— Come tudo quanto é cachorra. Quando uma entra no cio e sai aquele bando atrás, quem consegue chegar lá é o Preto…

Dava uma trucada, e voltava ao assunto…

— Tudo quanto é cachorra mesmo. Não escapa uma. Até cachorra policial…

Enquanto alguém embaralhava, dizia com insistência:

— Aqui nesta cidade, vocês podem saber, cachorra que parir filhotes pretos… é tudo filho do Preto.

E trucava de novo.

— Cachorro macho tá ali.

O pessoal provocava, dizia que o cachorro dele não prestava, e ele o defendia com ardor, exagerando ainda mais na macheza do cachorro. Na sua casa, todo mundo era macho. Até o cachorro.

Amanheceu o dia, alguns jogadores precisavam ir embora. Pararam o jogo, tomaram um cafezinho e saíram da casa. Na porta, uma surpresa: um cachorro enrabava o Preto naquele momento.

— O seu cachorro é viado! — comentou alguém.

O Roberval ficou lívido, desmontado, até explodir de raiva. Pôs o Preto pra fora de casa. Expulso para sempre!

E depois, o que aconteceu com o Roberval?

Não conto. Pega mal falar certas coisas de quem já morreu.

Mouzar Benedito

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